top of page

Caso Osklen: um novo olhar para o consumo de marca

A pandemia do Coronavírus, que mudou drasticamente os hábitos e nos faz viver de uma forma mais reclusa durante o isolamento social, está nos fazendo refletir sobre nossas prioridades e até mudando nossa forma de enxergar o mundo. Quando a vida é colocada à prova –afinal, existe sim uma ameaça de doença que pode levar à fatalidade – rapidamente nossas prioridades e nosso foco de vida mudam. Diversos acontecimentos já nos mostram esta nova forma de estar no mundo. Neste artigo quero trazer o caso das máscaras da Osklen.



Na última semana, a Osklen, uma loja de marca de elite do Rio de Janeiro, começou a vender um par de máscaras de proteção pelo valor de R$ 147. Em troca, para cada kit vendido, a empresa “faria a doação” de uma cesta básica para a comunidade do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro. Como a média de máscaras de proteção vendidas no mercado começa a partir de R$ 5,00, causou espanto o valor exorbitante pedido pelo produto. O dono da marca veio então a público explicar como eles chegaram a este valor de R$ 147 e provar que a empresa estava lucrando “somente” R$ 11, pois o resto era o custo do produto, a mão-de-obra das costureiras e... os R$ 70 do valor da cesta básica que seria distribuída. Ou seja, em sua comunicação, a Osklen vendia a ideia de que ela estava ajudando a comunidade com a venda do produto, mas no fundo quem estava pagando pela cesta básica era o próprio comprador da marca. Houve grande polêmica nas redes sociais e a Osklen acabou retirando a campanha do ar, após grande rejeição da opinião pública.


Mas vamos refletir e ir um pouco mais além. Antes da pandemia, este mesmo consumidor comprava roupas da marca a custos muito maiores do que o produto, apenas para ostentar o logotipo da empresa em suas roupas. Era sinal de status, ao vestir uma roupa de marca o cliente mostra que tem poder aquisitivo e dinheiro é poder em nossa sociedade. Se pararmos para avaliar, é risível verificar o quanto somos ludibriados pelo status quo e não só pagamos muito mais por um determinado produto, porque estamos usando algo de marca, como ainda fazemos propaganda desta marca, ao circular com a roupa que ostenta o logotipo.


Mas, voltando ao ponto de reflexão: pagar mais por um produto de uma determinada marca era “normal” antes da pandemia. Mas agora, não só grande parte do público se espantou com este valor superfaturado como viu que seu dono estava ganhando publicidade gratuita ao “fazer um ato solidário” de doar a cesta básica, pela qual quem estava pagando era o próprio consumidor! A reação foi instantânea e em cadeia e a marca foi envolvida em uma grande repercussão negativa após esta ação.


Será que estamos finalmente tendo “olhos para ver” que não faz o menor sentido ser ludibriado pela compra de um produto somente para ostentação? Ou estamos voltando aos valores e hábitos mais simples, da qualidade do produto e do preço justo que se paga por ele? Da valorização da produção e do comércio local, do vizinho que precisa de nossa solidariedade? Um artigo da Hypeness mostrou a contradição entre a postura da Osklen e de outras pessoas ou marcas que estão colaborando de forma realmente solidária e humana durante a pandemia.


*Monica Miglio Pedrosa é jornalista, empreendedora e netweaver. Procura ajudar pessoas através do compartilhamento de seus aprendizados e reflexões obtidos através de intensos processos de autoconhecimento.


bottom of page