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O nome dela é Arminda e o dele é Alfredo

E tem também João, Sérgio, Maria, Pedro. Todos eles pessoas com nome e sobrenome, uma história de vida, uma família, entes queridos que choram sua partida. Eles são muito mais do que um número, são muito mais do que os 100.000. Apesar de compreender a importância de quantificar o marco de mortes causadas pela Covid-19, é preciso constantemente lembrar-se dos rostos atrás das pessoas.


E foi no dia em que o Brasil chegou à marca dos 100.000 mortos pelo vírus é que soube que nesta estatística estavam Arminda e Alfredo, casal de perueiros da escola da minha filha. Eles deviam ter por volta de 60 anos. Não tenho detalhes de como contraíram o vírus ou como foi seu processo até o falecimento, mas isso não importa para o propósito deste post. Eles trabalhavam como perueiros da escola há muitos anos, no caso das minhas filhas levaram e buscaram elas religiosamente todo dia, pontualmente, por seis anos.


Apenas em meados do ano passado, quando comecei a trabalhar como autônoma e em home office é que suspendi o serviço de transporte da querida Arminda, pois já conseguia levar e buscar minhas filhas na escola e este tempo adicional com elas foi um dos motivos que me levaram a decidir por este novo estilo de vida.

Também passei a levar e buscar minha filha mais nova à escola de inglês e sempre encontrava Arminda e sua perua aguardando a saída de um coleguinha da antiga classe dela que também estudava lá. Sempre nos cumprimentávamos e conversávamos e ela saudava com enorme carinho minha Júlia, dizendo o quanto ela crescera e sempre muito orgulhosa de acompanhar seu crescimento, afinal ela começou a fazer o transporte da Ju desde que ela tinha apenas sete anos. E sempre falava dos netos com igual amor e orgulho.


Minha filha mais velha Carol sempre dizia o quanto Arminda era cuidadosa no trânsito e estava sempre de alto-astral, sorrindo, olhando sempre o lado positivo do que acontecia. Ela tinha grande carinho pela “tia” da perua, que diariamente a buscava pontualmente, no calor do verão, no frio do inverno, na chuva ou na seca. Quando nos mudamos para um endereço próximo à escola, quem passou a levá-las foi Alfredo, seu marido e companheiro de jornada, que levava as crianças que moravam na direção oposto à que Arminda seguia com outro grupo de crianças.


Queridos Arminda e Alfredo, gratidão por ter cuidado com tanto carinho das minhas amadas filhas e de tantas outras crianças... minhas orações são para que vocês sejam acolhidos no plano espiritual com todo amor com que acolheram tantas crianças, todos os dias, por tantos anos. Um prazer e uma admiração imensa por ter conhecido e convivido com vocês nesta vida.


E que todos possam se lembrar que João, Sérgio, Maria, Pedro que se foram também viveram, amaram, tinham família, filhos, pais, netos, pessoas que os amavam e que amavam também.


Eles não são "só" os 100.000. São João, Sérgio, Maria, Pedro e tantos outros. Únicos.

E o nome dela é Arminda e o dele é Alfredo.

*Monica Miglio Pedrosa é jornalista, empreendedora e netweaver. Procura ajudar pessoas através do compartilhamento de seus aprendizados e reflexões obtidos através de intensos processos de autoconhecimento.

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